quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Dymaxion - Além de seu tempo

Texto : Tony Dron
Fotos : Paul Harmer
Publicado originalmente na revista Octane de Dezembro de 2010
Tradução e edição : Xracer

Isso é a frente do carro...
EM OUTRA DIMENSÃO

O mundialmente renomado arquiteto Norman Foster construiu uma perfeita réplica de carro revolucionário Dymaxion - e nós nos juntamos a ele nessa volta.

Este é o carro Dymaxion. Parece diferente, esquisito, não ? Voce deveria tentar dirigi-lo. Sorria se você puder, mas o Dymaxion não é  coisa para rir. Longe de ser uma piada, este pioneiro carro de sonho 'verde' de 1934 é parte de uma memorável visão utópica do homem para um futuro sustentável no que nós chamamos Espaçonave Terra. O gênio atrás desta diferente máquina estava quase um século além de seu tempo, um culto polimatemático com idéias radicais em habitação, transporte e quase todo tipo de atividade
humana.

E aqui está seu surpreendente carro, recriado totalmente até o último detalhe. Encomendado por Norman Foster, é um trabalho de Crosthwaite e Gardiner. Até mesmo agora, 86 anos depois, o Dymaxion ainda tem coisas para nos contar. De outro lado, você pode dizer, isto é o que acontece quando um excêntrico arquiteto projeta um carro motorizado. Oh, sim, este filósofo, poeta, inventor, cartógrafo, cosmologista, matemático, profeta visionário  e muitas outras coisas além foi o distinto arquiteto americano Richard Buckminster Fuller.

Seu carro Dymaxion nunca foi além do estágio de protótipo. Permanece porém como um marco estético que mudou os padrões de seus dias. Graças a suas formas, seu consumo de combustível era muito inferior ao do Ford Tudor no qual era baseado. Um incrível consumo de 36 mpg imperial (12,74 Km/l) foi divugado. Entretanto, ainda é um carro e, como entusiastas de carros, há certas perguntas que nós sempre queremos ver respondidas logo de primeira.



Aqui vai: O Dymaxion é um carro de 3 rodas com tração dianteira através de um eixo vivo virado e alargado por 8 polegadas, motorizado com um motor Ford V8 de 3,6 litros; tem 20 pés de comprimento, com sua roda de traseira direcional, ele pode rotacionar e virar para o lado quase em seu próprio comprimento... e se este sumário não deixou você meio tonto, então eu tô no rumo errado por estes 40 anos.

O nome Dymaxion foi cunhado em 1927 pelo mago da publicidade Waldo Warren. Uma combinação de "Dinamismo, máximo e tensão, se tornou o nome da marca dos produtos de Buckminster Fuller 4D, ou projeto da quarta dimensão.Fuller desenhou uma casa do futuro mais muito mais coisas e os carros que se seguiram no começo dos anos 1930 eram parte de sua ampla visão para uma nova ordem de vida para a humanidade.

O co-projetista e modelista de Fuller nesses projetos era Starling Burgess, um pioneiro da aviação, arquiteto naval e projetista de barcos de corrida. O suporte financeiro inicial para o projeto do carro Dymaxion veio de uma das mais ardentes admiradoras de Fuller, a saudável aviadora Anna "Nannie" Dale Biddle. Em 1933, entretanto, Biddle veio a se tornar a quarta das cinco esposas de Burgess e Fuller logo se desentendeu com os dois.

Três protótipos dos carros Dymaxion foram produzidos na base de Connecticut, todos com linhas similares. Os chassis variavam mas essencialmente era uma plataforma carregando o motor, caixa de marchas e as rodas dianteiras. Um sub-chassis para as rodas traseiras e a direção, e uma plataforma de aço separada para ancorar o corpo: uma pele de alumínio num quadro cinza e como um barco em sua construção, completa com piso de madeira compensada. Feixe de molas foram usados pra todo lado.

O primeiro carro Dymaxion apareceu em Julho de 1933 e era muito menor do que os próximos dois, que vieram a serem completados no ano posterior. Este aqui foi baseado no terceiro e existe porque Norman Foster queria prestar uma homenagem a Bucky Fuller. Norman é ninguem mais que Lord Foster, fundador em 1967 da empresa "Foster e parceiros", e  o mais famoso arquiteto britânico vivo atual. Para quem não sabe, ele projetou o prédio da Swiss de Londres, mais conhecida como o "Gherkin". Como um jovem arquiteto nos anos 1970, Foster colaborou com Bucky Fuleer em vários grande projetos, desenvolvendo um profundo respeito pelo americano que foi por 40 anos seu mentor.

Isso é a traseira aerodinâmica dele...

Fuller morreu em 1983, mas Foster nunca se esqueceu de seu velho mentor, por isso que ele encarregou Crosthwaite e Gardiner de recriarem seu Dymaxion. Colegas na Forster e Parceiros, incluindo o chefe de Design David Nelson, se tornou entusiasticamente envolvido nas primeiras pesquisas. Apenas um carro Dymaxion, o número 2, sobreviveu por estes anos, mas eles puseram ter acesso a ele por Bill Harrah, do Museu Nacional do Automóvel em Reno. Sem isso, essa tarefa teria sido impossível.

Após examinarem detalhadamente os projetos e desenhos, estudarem as fotografias e examinarem pormenores e cada detalhe como se fossem especialistas forenses, Crosthwaite e Gardiner aplicaram seus talentos extraordinários para recriarem o que com certeza é uma perfeita réplica do carro número 3. Eles chamaram outro especialista para tarefas específicas: "Peter Freebody and Co." os melhores construtores de barcos do Rio Tâmisa pelos últimos 300 anos, que fizeram a armação do corpo em estilo de barco; a Roach Manufactoring fizeram a maior parte da cobertura de alumínio. Toda tentação em introduzir melhoramentos modernos foi rejeitada completamente mas, mesmo assim, Norman Foster quis chamar seu novo brinquedo de Carro Dymaxion Numero 4.

Este conceito de muito, muito tempo atrás ainda tem a força para nos fazer pensar acerca do que o carro significou originalmente e o que ele se tornará no futuro. Os primeiros automóveis pareciam ser coisas de brincar para os ricos, mas logo ficou claro que eles eram mais rápidos que os cavalos e se tornaram bem mais baratos pra correr.

Na década de 1920 os automóveis se tornaram confiáveis, firmemente estabelecidos como a maneira mais rápida, barata, confortável e conveniente de se locomover, e isso se mantém até nossos dias. Desde então, os carros se tornaram ainda mais confiáveis, seguros, rápidos, mais confortáveis e, em termos reais, até mais baratos de se ter.

O comprador típico de carros nem sempre via as coisas dessa maneira. Os carros sempre foram tão eficientes, tão comparativamente baratos de manter que, historicamente, os compradores apenas prestavam atenção para a questão do consumo de combustível, então era tempo de ver que acreditavam numa grande mentira. A história que voce acredita mostra que a industria motorizada é conservadora. Dessa maneira, Buckminster Fuller pensava exatamente nisso quando ele impulsionou este revolucionário carro tão provocativamente nessa equação.

Se fez isso, ele não estava inteiramente certo. A indústria automobilistica, ao invés de forçar projetos conservadores num mercado ávido por avanços reais, sempre estava pronta para novos desenvolvimentos mas se mantinha ciente da necessidade de oferecer o que o público comprador de carros queriam comprar. O pensamento conservador vinha principalmente da maioria dos compradores de automóveis, que pensavam mais em sua imagem pessoal do que qualquer desejo de se ter mais desempenho de um galão de petróleo.

A lista de fabricantes cheios de ideais que se deram mal por oferecerem essa noção de melhores carros para o futuro, alguns deles muito excêntricos, é muito longa. Dymaxion é um deles. Apesar de sua aparência inusitada e diferente, o carro número 1 atraiu uma grande quantidade de publicidade positiva de primeira vez, mas uma pancada devastadora ocorreu quando ele foi misteriosamente atingido por outro veículo fora dos portões da Feira Mundial de Chicago de 1933. O motorista do Dymaxion morreu no acidente e após isso o público americano não precisava de um Ralph Nader, que nasceu apenas 3 meses após o final da feira, para se voltar contra o carro de Fuller.

Uma eterna verdade do desenho de um carro é que, não importa tão bom uma máquina possa ser, você está com sua reputação queimada como fabricante se os vizinhos do comprador rirem dele. O Dymaxion nunca caiu nesse caso, graças a uma certa elegância que gerava respeito. Fãs das paródia do desenho animado de Bruce McCall de um mundo do futuro certamente reconheceriam alguma coisa aqui mas, do ponto de vista do estilo. O carro Dymaxion de Fuller foi bem sucedido por esse aspecto.



Vista lateral do Dymaxion Car
 
Desenhos de Bruce McCall
O formato de gota ou semelhante a forma de um peixe sugeria uma pureza de teoria da aerodinâmica, mas a verdade não é tão simples quando o assunto são os automóveis, que supostamente correm sobre o chão ao invés de viajarem livremente através do ar ou da água. Logo foi descoberto que os carros requiriam uma forma diferente para manterem sua estabilidade aerodinâmica e isso era talvez melhor expressados no Chrysler Airflow e com mais certeza no Scarab de William Stout, também produzidos em Detroit em 1934. Ambos falharam no mercado, parcialmente por causa da natureza ultra-conservadora dos compradores de automóveis da época.

O Dymaxion, mais aventureiro e radical que o Airflow ou o Scarab, nunca poderia ter tido sucesso em produção. Havia muitas falhas fundamentais. A direção pela roda traseira provavelmente faria com que muitos motoristas tivessem problemas. Antes que voce saisse com o carro seria uma boa idéia dar uma olhada para onde a roda traseira está apontando. Se não estivesse apontando diretamente pra frente, a traseira se viraria tão logo o carro se movesse.

Fuller chegou a pensar numa direção pelas rodas dianteiras, que seriam melhor, mas seu ás na manga principal era demostrar o raio de giro espetacular de seu protótipo Dymaxion e não parecia que ele abriria mão desse efeito. Sua relutância nisso era compreensível ainda que eu não imaginasse o que seria esterçar um Dymaxion em alta velocidade sobre ventos laterais cruzados. Embora o peso fosse distribuído uniformemente entre as 3 rodas, a carga maior estava na frente. O peso do motor e do câmbio estava bem mais pra parte posterior, apenas à frente da roda de trás.

Outra opção coinsiderada para o Dymaxion foi usar direção suplementar traseira pelo leme: em baixa velocidade, a roda de trás faria seu trabalho mas havia uma plano de arranjar a máquina de modo que a roda traseira levantasse do chão para dentro do carro em velocidade de cruzeiro. Interessante...pense no angulo de guinada duma frota de Dymaxions em velocidade e então imagine o que se requereria dos motoristas assim que eles fossem passar sob pontes ou viadutos.O que exatamente uma súbita mudança na direção do vento faria a um carro com este formato ? De qualquer maneira, em Dymaxions com ou sem lemes, é possivel que o motorista comum tivesse um pouco de dificuldades.
Detalhe da janela, interior e o motor Ford V8


NOSSO DIA DE EXPERIMENTAR O CARRO teve lugar na base da RAF em Kemble, Inglaterra, agora chamada de aeroporto Cotswolds.Norman Foster chegou num vôo proveniente de Madri pilotando seu jato particular, com sua esposa e duas crianças a bordo. Após sua experiência de dirigir seu Dymaxion novinho, eu perguntei para ele quais foram suas impressões.

"É como dirigir um barco", ele disse, "ele é muito macio e confortável e tudo acontece num tempo mais lento. Tem uma vista incrível, panorâmica, do ponto de vista do banco do motorista. Eu ainda me sentia ligeiramente apreensivo, mas a familiariedade está ainda se desenvolvendo, mesmo ele sendo diferente de qualquer coisa que eu já dirigi antes. A suspensão é macia mas não flutuante e eu começo a acreditar que faria curvas muito bem mesmo rápido".

Foster, visivelmente encantado com seu Dymaxion, adicionou : "Bucky Fuller fez muitas declarações, mas mesmo se você descontar o que ele exagerou  ainda há um bocado de conteúdo no que ele disse. E não se esqueça de que durante a II Guerra mundial, um desses carros rodou 700.000 milhas em torno dos Estados Unidos, promovendo a campanha "Toda a ajuda para a Grã-Bretanha e os aliados"".

Fuller, um habilidoso showman, fez diversas afirmações escandalosas, uma delas que ele poderia exceder as 120 mph (192 Km/h) num Dymaxion. As relações do câmbio por si só mostram que isso seria implausível.

Para a segunda volta de Norman Foster na estrada no perímetro do aeroporto eu entrei no carro, no banco de trás.O compartimento do passageiro é tão vasto que eu poderia esticar minhas pernas sem sequer tocar a parte de trás do assento dianteiro ! Ele é bem acabado e corretamente estofado com um leve carpete e um estofamento de couro preto.Sentado atrás eu vi uma ranhura no teto, com um espelho retrovisor escondido para o passageiro poder ver atrás também. Há um espelho semelhante acima do motorista, à esquerda na frente. O carro se move extraordinariamente macio sem nenhuma impressão de se estar balançando em torno da roda traseira, provavelmente  porque ela está bem mais pra trás mesmo.

Norman e sua familia então tiveram que sair e logo nós estávamos assistindo seu jato correndo pela pista de Kemble. Falando então com um dos engenheiros da Crosthwaite & Gardiner eu observei " puxa... está demorando pra subir na pista, não está ?"

"Oh sim...", ele respondeu,"(o jato) está de tanque cheio, eles estão voando pra Nova York agora". Caramba, que cara...eu pensei, mas então era minha vez de dar uma dirigida neste Dymaxion. Deslizando para o banco do motorista, prame por atrás de seu volante, a primeira coisa que você nota é a vista panorâmica. É como estar no cockpit de uma grande avião da década de 1930, com bastante vidro ao redor de você. Os controles parecem normais, entretanto, com a alavanca do câmbio de 3 marchas da Ford, brotando do meio do piso. Você tem que esticar a mão um pouquinho para pega-la, mas se manuseia extremamente bem, sem folgas, mesmo sabendo que a caixa de câmbio mesmo está lá atrás a 2 metros de distância.

Assim que começamos a andar com ele, o fotógrafo me perguntou: " O que você achou dele ?" e eu respondi: "Não tem bem uma sensação específica". A direção entretanto, responde previsivelmente e uma curva de 90º requer apenas uma pequena força, talvez uma meia virada no volante, para nos levar a uma volta segura. No espaço disponível para o teste, nós pusemos 80 Km/h nele e o Dymaxion se manteve estável e fácil de se dirigir.

Dar uma voltas com ele foi extraordinário. Os freio fracos - tambores hidráulicos com ação mínima na roda traseira - são o típico da época, mas bons o suficiente. Então voce dirige as rodas de canto a outro como se estivesse em um barco e a traseira deriva intantaneamente enquanto voce sente como se estivesse sentado num ponto, no que voce seguramente está mesmo. Diversão sem fim, mas me ocorreu na hora que o diferencial não foi projetado para essas estrepolias. A aceleração nessas pequenas engrenagens, especialmente com o largo eixo dianteiro, devem ser muito além do que eles originalmente foram projetados para fazerem. Insistisse eu nessa maneira de dirigir por mais um pouco e eu duvido que eles durariam muito tempo mais.

Há quase 12 voltas na direção, de ponta a ponta, eu notei, então voce precisa conduzir o volante de volta para a posição direta pra frente com cuidado. Isso não é difícil, mas eu ainda me pego pensando como um Dymaxion se comportaria com ventos cruzados quando correndo a todo gás. O mecanismo de direção é um sistem com cabos de aço que atuam como uma corrente de motocicleta que é enganchada em torno de uma grande roda dentada de 92 dentes atrás.

Lembrei-me de 1935, quando Fuller estava dirigindo seu Dymaxion número 2 com sua família através de Connecticut quando esse pequeno encaixe do volante se soltou .Sem conseguir esterçar, eles foram para fora da pista e capotaram, Todos escaparam com pequenos ferimentos mas o incidente com certeza sacudiu a confiança que Fuller tinha com o Dymaxion permanentemente.

Nós precisamos de livre-pensadores visionários como Buckminster Fuller e esta homenagem a sua memória é uma coisa maravilhosa. Pessoas assim podem não produzirem teorias infalíveis todo o tempo, mas tem a habilidade de nos fazer parar em nossas pistas e inspirar pensamentos novos e originais. Eles são um tipo de pessoas que olhariam num novo Morris Marina (conhecido na Inglaterra como o pior carro de todos os tempos) em 1971, somente para darem um passo pra trás instantaneamente e dizerem: "Aonde que você vai, fazendo alguma coisa como isso ? ". O tempo pode fazer os gênios florescerem.

Agradecimentos à Crosthwaite & Gardiner ( www.crosthwaiteandgardiner.com).
O livro O carro Dymaxion - Buckminster Fuller escrito por Norman Foster agora já está disponível em www.ivorybooks.com.



FICHA TÉCNICA - CARRO DYMAXION NÚMERO 4 DE 2010 :

Motor : Ford V8, cabeça chata, 3622 cc, válvulas laterais, carburador de corpo simples.
Potência : 75 hp brutos.
Transmissão : 3 marchas manuais, rodas motrizes dianteira.
Direção: por cabos, para a roda única traseira.
Suspensão : Dianteira : eixo vivo, feixe de molas semi-elipticas, amortecedores de braço de alavanca. Traseira : Quadro em A, feixe de molas semi-elipticas simples, amortecedores com 2 braços de atuação.
Freios : tambores na frente e atrás.
Peso : 1837 Kg
Desempenho : Não testado ainda, apesar de ser ultrajante quando novo !

Mais informações : patente original  ;  Autoentusiastas ; Autopia ; Wikipedia ; Stanford University ; PressAuto ; Roach RestauraçõesCNN ; 3 Wheelers

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